Treinos em dupla do Alvin e do Bernard W. King

O dia estava chuvoso hoje. Bernard estava sendo salvo pelo aglomeramento de semideuses no Chalé 11, o que trazia calor. Mas a preguiça era inevitável; havia marcado um treino com um filho de Hefesto na Arena, de seis da manhã. Já havia se passado quase meia hora e nada do garoto sequer sair da cama. Ele espreguiçava-se, bocejava e ficava numa batalha constante com os olhos dele, tentando manter-se acordado.
Entre um bocejo e outro, a coragem surgiu. Decidiu realmente ir treinar. Foi tomar uma ducha quente, para acordar ao mesmo tempo que se esquentava. Demorou tempos dentro do banheiro, sem se preocupar com nada ou ninguém.
Depois de ter saído, vestiu uma calça, a camiseta do Acampamento e um casaco. Tudo bem, o garoto iria suar lutando contra monstros, mas antes morrer de calor do que de frio. Abriu os lábios roxos de frio para bocejar. A preguiça o consumia. Isso iria, com certeza, prolongar o treino. Sem mais delongas, apanhou a espada longa em cima de seu colchão e dirigiu-se à arena do Acampamento.
Ao chegar lá, pôde ver Alvin nos fundos, no bestiário, se preparando para soltar um monstro. Apenas gritou, para sinalizar que chegou.

As harpias eram monstros maldosos. Bernard aprendeu isso da pior forma possível. Alvin, ao contrário de avisar ao garoto, soltou-as rapida e repentinamente. Elas eram três. Uma já fora atacar a prole de Hefesto, as outras duas vieram para em cima do indefinido. Era terrível, a preguiça continuava lá, porém ele tinha de matar as mulheres-galinhas, como gostava de chamar. A espada pesava em sua mão, teria de segurar com as duas mãos. Não sabia ao certo que força usar para movimentar a espada. Devia ter treinado antes com ela, para conhecer a arma, saber se é leve, se é pesada, etc. Arriscou na leveza da espada. Deu um pouco certo, mas não atingiu nada. Já estava percebendo que eles teriam que lutar juntos para conseguir derrotar as harpias. Rolou, aproximando-se de Alvin e do monstro que o atacava. Chutei-a, no intuito de afastá-la dali. Ela somente saiu de cima do outro, nada a mais nada a menos.
— Nem eu, nem você conseguimos acabar com sequer uma delas. Não leve como frase de filme da Disney, mas a gente tem que lutar juntos — falou Bernard ao filho de Hefesto.

Eu não vou ficar apenas na defensiva, sussurrou Bernard para si mesmo. Alvin tinha os deixado apenas defendendo dos ataques, sem atacar. No início, isso até fora bom para se recuperar, mas o indefinido pensava que, desse jeito, eles não iriam matar nunca elas. Tocou as costas da prole de Hefesto com o cotovelo, avisando ele para sair daquela posição. Segurou sua espada forte e firmemente, ainda com as duas mãos. Deu um passo à frente, esperando a harpia tomar iniciativa, afinal, a mulher-galinha observava o indefinido com um olhar fixo, focada nele. Sua expressão era de quem planejava, provavelmente um ataque. Deu outro passo — talvez um grande erro — e logo em seguida o monstro saiu em sua direção. Bernard abaixou-se e Alvin fez o mesmo, fazendo as duas harpias ficarem num lugar só, reunidas. Parti para o ataque e tentei fincar a espada na barriga de uma das galinhas.

Tudo bem, eles estavam passando por uma situação difícil, já que a harpia fez Bernard voar e Alvin perdera a espada. Mas, particularmente, a cara do filho de Hefesto era ridícula. Ele devia estar pensando que ia morrer. No máximo, iriam entrar em coma por um mês. Bernard analisou a situação. Eram duas harpias e ele, com apenas uma espada e completamente inexperiente. A vitória estava basicamente impossível, mas poderia acontecer. Sentou-se no chão, esperando um ataque. Fez como se ele não estivesse mais ligando para nada, nem o frio — que aliás consumia-o, deixando-o mais lento —, nem a preguiça, nem a grande probabilidade de morrer. Na verdade, pelo que percebera até agora, harpias eram criaturas que agem com o instinto, não pensam nada — em outras palavras, eram burras. Suspirou. O grito fino da mulher-galinha corroía o ouvido de Bernard. Ele ouviu o barulho de suas asas cortando o ar, estava voando. Veio correndo em sua direção no mesmo momento em que o garoto levantou a espada. O monstro caiu na armadilha, foi atravessado pela arma do indefinido.
Feito isso, era hora de ajudar Alvin. Ele já devia estar desistindo, mas, como conhecia as proles de Hefesto como gente de força, devia ter conseguido se manter consciente até ali. Consciente, mas não bem. Observou a harpia ameaçando matá-lo e ficou sem saber o que fazer. Pulou, mergulhando na cena em que antes estava assistindo. Agora, quem sofria risco de morte era ele, quando sua cabeça bateu na perna da mulher-galinha, fazendo-a ficar deitada junto a ele.

— Foi, até que achei um bom treino — respondeu Bernard. — Obrigado.
O garoto pegou a espada dele que até então estava com Alvin e recolheu as armas espalhadas pela Arena. A essa hora já tinha mais gente lá, deveria ser cerca de sete e meia da manhã; ou mais. Suspirou e pensou em quanta energia gastado naquele treino, tentando matar três harpias. O frio já amenizara, a chuva estava parando, estava um ótimo clima para quem queria dormir, mas infelizmente o semideus não podia. Tinha que tratar dos ferimentos, o que faria passando na enfermaria.
— Quer passar na enfermaria? — Bernard perguntou a Alvin.
O filho de Hefesto fez que sim com a cabeça e eles foram.

Voltaram cada um ao seu respectivo chalé.